Entrevista: Rogério Soares Coelho, presidente da Abicol
Presidente da Abicol, Rogério Soares Coelho, explica as demandas no Inmetro e com governo, as dificuldades com a falta de matéria e outros assuntos
Publicado em 9 de dezembro de 2020 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo
A Associação Brasileira da Indústria de Colchões (Abicol) tinha como presidente desde 2019 o empresário Rogério Soares Coelho, da Orbhes Colchões. Ele, que assumiu a gestão de Alexandre Prates Pereira (2017-2018 e 2019 interrompida para afastamento por assuntos pessoais) no ano passado, liderou a entidade neste conturbado ano de 2020.
Agora, nomeado presidente da Abicol pelos próximos dois anos – 2021-2022, ele conta os efeitos da pandemia no setor colchoeiro, os desafios com a falta de matéria-prima, com selos, certificações e sustentabilidade, entre outros assuntos em uma entrevista em duas partes – a outra pode ser lida na edição 303 da Móbile Fornecedores.
Fornecedores | Neste ano atípico, os efeitos da pandemia no setor de colchões foram fortes, com alta de preços de insumos, falta de produtos e consequente paralisação da produção. Como foi lidar com isso?
Rogério | Um desafio que entrou na nossa agenda de uma forma totalmente inusitada é uma explosão no preço de todas as nossas matérias-primas, desde o produto químico, molejo, grampo, tudo, e que fomos obrigados a repassar. O reajuste que os colchões tiveram esse ano chegam a 35% a 45% este ano, o que é irreal. Mas esses reajustes internacionais nos produtos químicos e no aço nos preocupam. E para amenizar isso é tentar a redução de tarifas, mesmo que sejam momentâneos, para que fabricantes nacionais possam ir fora e trazer produtos a um preço mais competitivo. Essa é a nossa demanda agora.
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Tivemos fabricantes parados no mês de setembro devido ao poliol e agora (outubro) há a falta de aço que impactam na produção de molejo, no qual várias fábricas terão problemas. Temos expectativa de que o consumo de hoje continuasse em 2021, mas é um completo exercício de futurologia alguém falar o que vai ser em 2021. Da mesma forma que nosso mercado, todos erramos, no começo da pandemia, ninguém tinha preocupação que teria falta de matéria-prima, a preocupação era falta de demanda e a coisa se inverteu de uma forma totalmente contrária. Isso não só no Brasil, a produção nos Estados Unidos explodiu, aumentou de forma tremenda, e lá os colchões chineses receberam uma pesada taxação de anti-dumping, então os colchões asiáticos diminuiu muito e a produção americana de colchão aumentou, 30%, é algo absurdo, e isso se repete no consumo como um todo.
Fornecedores | O aumento de produção nos Estados Unidos impacta na falta de matéria-prima aqui?
Rogério | Aço para mola, há produtores que fazem seu próprio molejo nos Estados Unidos, que poderiam mandar isso para cá. Mas o consumo lá está muito alto. A produção de mola dos EUA está em um pico então eles estão importando do mundo inteiro. Tivemos notícias que foi enviado molas ensacadas de avião para lá. Então, os americanos estão importando molejo da China, da Turquia, e isso faz com que a falta se espalhe para todo o mundo. O consumo de espuma também, porque o nosso TDI é importado e o poliol vem de lá. Para complicar, o famoso furacão Aura paralisou algumas unidades fabricantes desses produtos químicos lá. Essa junção de situação que causou esse transtorno.
Fornecedores | Qual a expectativa de que as demandas perante o governo sejam atendidas?
Rogério | Nós queremos fazer uma solicitação embasada em números, não em vontade. Queremos mostrar o presente e o futuro. Contratamos pessoas especializadas nisso para que seja feito de uma forma certeira, porque se acontecer será um benefício para todo o mercado. Os players nacionais ao não conseguirem atender, não são prejudicados em nada. A nossa expectativa é entrar em contato com o governo para ser aprovado de uma forma rápida. O preço do colchão pode chegar a valores tão irreais que certa camada social pode não ter acesso e somado a isso vai faltar produto.
Fornecedores | Ainda há muitas fábricas fechadas?
Rogério | Hoje, em relação às últimas paralisações que aconteceram foram devido ao poliol. Tem-se notícia que a situação normalizou, mas os volumes de produtos ofertados não vão atender a demanda que existe do mercado neste ano. Ao diminuir esse volume, as empresas são obrigadas a ajustar a produção delas. Ano passado fiz mil colchões por dia, este ano vou receber material para produzir 700. Teremos um freio na capacidade produtiva das empresas neste ano. Para o ano que vem, esperamos que a situação normalize. Ninguém sabe o motivo desse consumo maior de colchões no mundo e ninguém sabe se isso vai se sustentar. É por isso que para nós, a importação se torna urgente para que dê essa mobilidade do produtor nacional encontrar fora do mercado ele compra (produtos químicos).
Fornecedores | Como a Abicol tem olhado para a questão da sustentabilidade e da economia circular dos colchões?
Rogério | Não existe no Brasil e em quase nenhum país do mundo, uma situação para se tratar isso. Alguns estados brasileiros começam a ver isso e há uma comissão da Abicol de olho nisso. Só os Estados Unidos, na verdade quatro estados americanos, fazem a reciclagem obrigatória dos colchões, é um programa chamado “Bye, Bye Matress”, é gerido pela Ispa, a associação americana dos produtores de colchões. Nesses quatro estados eles tratam os colchões, que são reciclados dentro dos modelos, e é cobrado do consumidor final. Emitiu-se a nota fiscal americana, tem no final 9 dólares em três estados e 11 dólares na Califórnia.
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A reciclagem do colchão lá é um tema muito complicado, porque o colchão recebe fluídos corporais, então é um produto que tem de ter certo cuidado para manipular depois. Lá nos Estados Unidos utilizam muito carpete e embaixo usam uma manta de aglomerado de espuma para deixar o toque macio. Então eles pegam o colchão, tiram as espumas, isso é moído e fazem o aglomerado. O aço é reciclado, a madeira eles fazem o cavaco para utilizar em jardim. Eles começam a sentir problema porque o uso de carpete tem caído. Isso é feito nos EUA e aqui no Brasil a Abicol tem alguns estudos de como seria a melhor forma para tratar isso. O uso consciente do descarte do bem pelo consumidor é a melhor forma. São Paulo tem 52 pontos de coleta, salvo engano, é uma questão de educação. É uma questão maior de informação do consumidor e como ele vai tratar isso.
Fornecedores | A Abicol criou o Selo Abicol para comunicar ao consumidor produtos feitos por empresas responsáveis. O que este selo tem de diferente do selo do Inmetro e do Iner e por que é importante as empresas de colchões terem?
Rogério | O Selo Abicol, quando o presidente Alexandre sugeriu a criação dele, a ideia é basicamente mostrar que as empresas que produzem com o Selo Abicol, o colchão atende as normas do Inmetro, atende certos parâmetros de socialmente responsáveis, meio ambiente, essa é a visão inicial. Com o colchão passando a ser caracterizado como grau 1 de risco, a ideia do selo é ter uma proporção que mostram que os fabricantes que o utilizam, são verificados, o produto é registrado, atende a portaria do Inmetro e é um colchão que o consumidor pode comprar de olhos fechados. Não estamos desacreditando o selo do Inmetro, nosso sonho é que ele seja muito mais forte do que está no momento. O que colocamos agora com o Selo Abicol é que tenha a possibilidade de atestar de uma forma transparente e clara, de que são alguns e não vários fabricantes e dizer: “Nós existimos, nós somos esses fabricantes, nós fazemos nossos produtos de uma forma diferente, nós nos verificamos e nós desejamos que nosso produto seja visto com uma segurança maior do que é ofertado por outros players do mercado”.
Fornecedores | Uma das ações da Abicol neste ano foi a criação de três protocolos de boas práticas para o combate à disseminação da Covid-19. Como os lojistas avaliaram isso?
Rogério | Uma preocupação muito grande, que quando a Covid-19 começou, ninguém sabia como seria. Então a gente tinha que zelar pelo nosso negócio e pelo negócio do nosso lojista. E só tem uma forma de fazer isso que é zelando pela vida, pela saúde dos nossos colaboradores e dos nossos clientes. Então a Abicol contratou uma consultoria como um infectologista que naquele período com o que se conhecia, o que nós poderíamos fazer para minimizar essa situação.
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É muito interessante que se pegar os protocolos que a Abicol lançou logo no início da pandemia, 2/3 meses depois eles passaram a ser replicados pelos meios de comunicação como uma coisa a ser feita, então isso foi interessante. A nossa visão foi para que o negócio não caísse em um primeiro momento, por falta de mão de obra para trabalhar, e em um segundo momento do medo do consumidor de entrar em uma loja. Então isso foi de grande valia e deu muita segurança, pois tudo que o ser humano deseja nesse momento é algo que lhe dê segurança e esses protocolos nos ajudaram a dar segurança nesse momento.
Fornecedores | Quais são os problemas que o setor de colchões enfrenta cotidianamente e que a Abicol luta para superar?
Rogério | Se não houvesse a Abicol, nós estaríamos nos piores dos mundos. Muito interessante que cada presidente que entrou, ele tomou uma atitude como se tivesse uma bola de cristal. O Félix criou a estrutura, o Luiz Fernando deu uma profissionalizada, e o Alexandre Prates teve o insight de pensar o Selo Abicol. O primeiro grande desafio que a Abicol tem hoje é mostrar para o Inmetro que o colchão é sim um produto que põe em risco a saúde do consumidor. Se uma pessoa não dorme bem, ela vai ter problemas de saúde, falta no trabalho, leva um trabalho laboral, e se dorme mal pode ter um acidente. Queremos mostrar para o Inmetro que o colchão impacta violentamente na saúde da pessoa. Então esse é o grande desafio da Abicol a médio-prazo.
Leia outra parte desta entrevista na edição Móbile Fornecedores 303.