Falta de matéria-prima prejudica polo moveleiro de Linhares
Na lista de itens em falta estão os principais insumos usados no setor. Aumento nos preços de alguns produtos passa de 100%
Publicado em 15 de dezembro de 2020 | 11:46 |Por: Thiago Rodrigo
Passado o período inicial da pandemia, com queda nas vendas do setor moveleiro em março e abril, teve início um forte período de recuperação – igualmente no polo moveleiro de Linhares -, a partir de maio, com altas consecutivas nos meses seguintes. Dados do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE), apontam que em outubro, a produção de móveis do Brasil está 8% superior ao período pré-pandemia.
O aquecimento nas vendas, porém, fez surgir dois problemas: a falta de produtos, e uma escalada de reajuste nos preços. Todos os insumos, usados na indústria moveleira, já estão com um certo grau de dificuldade para aquisição, o que prejudica os fabricantes, por vários motivos. É o que explica o Presidente do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte do Espírito Santo (Sindimol), o industrial Bruno Barbieri Rangel.
“Todos os insumos já estão com um certo grau de dificuldade para aquisição. Alguns um pouco menos e outros que já estamos tendo que, ou deixar de produzir, ou substituir, como é o caso do alumínio. Essa falta de insumos, além que quebrar o ritmo de produção, gera um desconforto enorme em relação aos compromissos assumidos com o cliente, que acabamos não conseguindo cumprir”, destaca Rangel.
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Outro problema para o polo moveleiro de Linhares é o impacto nos preços, causado pela escassez de matéria-prima. Alguns itens tiveram reajuste superior a 100%. O empresário Kerliton Modenezi, diz que, a partir de junho, as principais matérias-primas sofreram reajustes. “A partir do mês de junho, o mercado se mostrou muito aquecido, o dólar disparou e começaram os aumentos dos insumos. Todos os meses seguintes tivemos reajustes das nossas principais matérias primas, algumas de até 120%, ao longo desse período”, explica Modenezi.
O Presidente do Sindimol disse ainda que o consumo hoje está bem acima dá oferta, e para reverter esse quadro é preciso equilíbrio, enquanto isso não acontecer fica difícil fazer alguma previsão de retomada a normalidade. “Na realidade o consumo hoje está muito maior que a oferta, então enquanto essa balança não se equilibrar, vai ficar difícil fazer qualquer previsão de retomada da normalidade na entrega de insumos para indústria moveleira”, concluí o presidente.
Problema afeta segmentos do polo moveleiro de Linhares
Dentre os associados ao Sindimol, não são apenas as fábricas de móveis seriados que sofrem os impactos da falta de matéria-prima. Fabricantes de estofados e marcenarias também sentiram os efeitos da crise. Rafael Motta Boa Morte, sócio e administrador de uma fábrica de estofados em Sooretama, diz que o foi preciso tomar decisões rápidas para contornar a falta de matéria prima e o aumento dos preços que chegou a 100%, no caso da espuma.
“Tivemos que agir muito rápido. Trocamos cores de tecido que não estavam mais disponíveis para compra e negociamos com os nossos clientes essas trocas. Também fechamos parcerias com novos fornecedores para compra de tecidos e espumas. No caso da espuma, o repasse dos aumentos para as indústrias de estofados beirou 90%, 100%, em alguns casos”, salienta Motta.
Quanto aos clientes da empresa localizada no polo moveleiro de Linhares, Rafael explicou que foi preciso manter diálogos constantes, no intuito de manifestar a necessidade de reajustar os preços, mesmo com pedidos em carteira, e que esses reajustes eram reflexo do mercado. Já nas marcenarias o problema mais grave é a falta de ferragens. “Nosso maior problema são as ferragens. Muitos fornecedores já estão sem material para pronta entrega e não tem previsão de quando chega”. Esse é o relato do empresário Emerson Pauli Marinato.
Outra dificuldade, apontada por Emerson, é a falta de estoque de material, uma vez que, geralmente, as marcenarias trabalham com estoques reduzidos, e produtos muito específicos, de acordo com cada projeto. Além de aumentar o tempo para entrega dos móveis, alguns pedidos precisaram ser recusados, e a margem de lucro encolheu. “No caso de pedidos já fechados, a margem de lucro foi enxugada, e nós ficamos com o prejuízo, uma vez que não tivemos mais como repassar esses reajustes para o cliente”.