Lideranças femininas protagonistas da Indústria 4.0
Conheça três mulheres que atuam em áreas de tecnologia e construção e lideram suas equipes e o caminho de suas empresas
Publicado em 8 de março de 2023 | 17:39 |Por: Thiago Rodrigo
De acordo com a última edição do Global Gender Gap Index, mais abrangente estudo sobre desigualdade de gênero no mundo, as mulheres ocupam apenas 37% dos cargos de liderança de empresas e são minoria absoluta nos segmentos de tecnologia e infraestrutura, ocupando 24% e 16% dos cargos de liderança nestes setores, respectivamente.
Em outro comparativo do estudo sobre o nível de escolaridade, as mulheres brasileiras se destacam por serem a maioria nas universidades, estando mais presentes em cursos como educação, ciências sociais e jornalismo. Já os homens, são fortemente representados em cursos de tecnologia da informação, engenharia e construção, o que pode justificar a maior empregabilidade masculina nestes segmentos.
Para entender o perfil de algumas mulheres que conseguiram transpor essa realidade, trouxemos a história de três empreendedoras do Rio Grande do Sul que atuam em ambientes majoritariamente masculinos da tecnologia e construção, estão à frente de suas equipes, liderando e definindo os caminhos de crescimento de suas empresas. O que elas possuem em comum? O desafio de preparar suas empresas para a transformação exigida pela Indústria 4.0, sem perder a essência do seu negócio.
Fernanda Souza Ferreira, da Gabster
Fernanda está há 9 anos à frente como COO da Gabster, plataforma de negócios que conecta arquitetos e profissionais de design através de método e tecnologia com 11 segmentos da indústria da construção, como marcenarias, indústria de eletrodomésticos, revestimentos etc.
Enfermeira de formação, sempre viu a liderança feminina com naturalidade já que nessa profissão as mulheres são maioria. Foi em um momento de reinvenção que decidiu entrar para o mundo corporativo e da tecnologia e hoje desenvolve sua carreira em um ambiente diferente, liderando uma equipe de 30 pessoas onde os homens estão em maior número.
– Linguagem comum entre máquinas
“Quando decidi pela transição de carreira, vi na Gabster a oportunidade de impactar positivamente a vida de milhares de pessoas de forma escalável, fazendo com que essa missão contemplasse meus objetivos pessoais também. Já gostava da arquitetura, decoração, mas foi através da tecnologia e inovação aplicada a ela que encontrei um caminho para contribuir com a sociedade como eu queria”, afirma Fernanda.
Apesar de ter feito especialização na área de Gestão Empresarial para se preparar para os novos desafios de empreender, afirma que foi através da trajetória na Enfermagem que adquiriu o viés humanista, visão sistêmica e senso de urgência, que entende como diferenciais na entrega de resultados junto aos seus clientes.
E se melhorar a vida das pessoas através dos seus negócios não é suficiente, a empresária ainda encontra espaço para diversas atividades voluntárias, contribuindo mensalmente com recursos e tempo para auxiliar entidades beneficentes e de impacto socioambiental, como Greenpeace, ActionAid e Imama, além das ações mensais nas quais distribui alimentos, brinquedos e materiais de higiene pessoal para comunidades carentes da região metropolitana de Porto Alegre. Desde 2020, algumas ações são idealizadas por sua filha Amanda, de 17 anos, a quem Fernanda busca incentivar e apoiar na atuação voluntária pois entende que o legado não é só para si.
Para Fernanda, 40 anos, apesar de serem minoria, as mulheres líderes nesse ecossistema da reforma, construção e decoração costumam ter um papel de protagonismo na transformação dos negócios, resultado da junção da capacidade técnica com habilidades interpessoais típicas do gênero, permitindo que seus negócios usufruam das tendências tecnológicas disruptivas da indústria 4.0 trazidas pela Gabster.
– Exportações de móveis e colchões
“Visto que é um setor dominado por homens, vejo com certa frequência que as mulheres que optam por serem líderes e assumem seu papel na tomada de decisão acabam sendo muito mais exigentes consigo mesmas e cultivam a mentalidade de que precisam sempre se provar boas o suficiente, o que muitas vezes atrapalha o seu desenvolvimento”, afirma.
“Entendo que faz parte da minha missão de impactar milhares de pessoas através dos sucesso dos seus negócios, desenvolver nos stakeholders desse ecossistema o pensamento crítico e a mudança de mindset, para que entendam os princípios de equidade e possam oportunizar que mais mulheres estejam efetivamente a frente das tomadas de decisão, transformando times, resultados e levando as empresas para outro patamar”, finaliza a executiva.
Diana Dalla Costa, da Motiva Móveis
Ingressar na área comercial foi um movimento natural para Diana, 50 anos e gerente comercial geral da empresa de Bento Gonçalves (RS). Desde os 14 anos, ela já trabalhava e demonstrava habilidade de persuasão e engajamento. Formada em Administração e Comércio Exterior, área que oportunizou à empresária o acesso a outras culturas e realidades, foi no segmento moveleiro que ela aprimorou seus pontos fortes e desde 2017 é Gerente Comercial Geral para o mercado brasileiro e internacional da Motiva Móveis, tradicional indústria de móveis sob medida.
Liderando uma equipe de 68 pessoas, sendo 70% homens, Diana considera que avançar em um universo majoritariamente masculino é um desafio que está nela mesma, independentemente do gênero. “Em qualquer projeto, o grande desafio está dentro de mim. Minha inteligência precisa estar compatível e, se não estiver à altura, preciso me preparar para isso”, afirma Diana.
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Ela já liderou duas transições importantes na empresa desde que assumiu a gestão comercial. A primeira, com a missão de consolidar a marca no mercado nacional. A segunda, de inscrever a empresa na era da Indústria 4.0, mudança que está sendo implementada há poucos meses, com o apoio da Gabster.
“Quando se fala em inovação em um segmento tradicional como o nosso, é uma pauta que assusta muito. Então foi preciso entender a proposta e fazer toda a empresa estar preparada para isso, convergindo os objetivos comerciais com a visão fabril”, afirma a gerente.
Diana ainda reforça que a nova metodologia trouxe velocidade e modernidade para o modelo de negócio da Motiva mas que, só foi possível, por conhecer bem a equipe para implementar a inovação sem resistências. “É inerente do ser humano resistir ao desconhecido, mas conduzimos de uma forma que todos entenderam e acreditaram que era possível”, complementa.
Conhecer bem a equipe, capacitar, inovar e ampliar o olhar são condutas naturais para Diana, que vê a essência feminina em seu perfil de liderança quando atua com delicadeza e cuidado nos detalhes, sem perder o pulso firme do cumprimento da palavra, firmeza e retidão de atitudes. “Dificilmente uma mulher à frente de um negócio foge das situações de tensão e pressão. Presença feminina é uma presença forte, onde realmente faz a coisa acontecer mais aberta, mais transparente”, conclui Diana.
Renata Sandrin, da Sandrin Móveis
Trabalhando na indústria “desde sempre”, Renata não sabe precisar exatamente quando começou a trabalhar na Sandrin Móveis, indústria de móveis planejados fundada pelo seu pai e seu tio, pois constantemente era convidada a ajudar em alguma tarefa e ali foi se desenvolvendo profissionalmente. Com 48 anos, é diretora executiva da empresa de Bento Gonçalves.
Analista de Sistemas, foi durante uma formação em Processos que partiu para conhecer todos os setores da empresa, passando a ter uma visão global do negócio e teve uma grande virada ao imergir na área comercial e conhecer o mercado com todos os seus desafios.
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“Nasci e vivi na indústria, mas conhecer o mercado, entender como funcionava, foi desafiador e comecei a entender que a modelagem de loja é bem diferente do modelo de negócio da indústria” afirma Renata, que complementou sua formação com uma especialização em Gestão Empresarial.
Hoje a gestão da empresa com aproximadamente 120 colaboradores é realizada pela segunda geração de sócios, filhos dos fundadores. Renata é a única mulher e a mais jovem do time. Como Diretora Executiva desde 2021, assumiu para si o desafio de capacitar e renovar a empresa para um mundo em constante mudança, introduzindo uma nova dinâmica que o mercado exige, sem perder a essência de uma trajetória de 52 anos de mercado da Sandrin. Para esta transição, assim como Diana, conta com a metodologia da Gabster para implementar a inovação nos processos da empresa.
“Quando falamos em inovação, antes da tecnologia vêm as pessoas. Inovação serve de apoio para a transição que passa pelo comportamento, pela tendência, até chegar na tecnologia e no digital. É um pouco maior do que só o tangível”, argumenta Renata que entende que qualquer processo de transformação passa pela capacitação, engajamento e confiança do time em atualizar o modelo de operação da empresa. “Não é fazer tudo diferente, mas melhorar o que a gente já sabe fazer”, define.
Para Renata, as oportunidades do mercado têm que acontecer se a competência existir, independente de quem for, e vê o perfil feminino complementando muito os negócios, fazendo com que as oportunidades aumentem na medida em que as empresas percebem a importância de ter mulheres junto à equipe.
“Sempre fui favorável a grupos mesclados, pois penso que a dinâmica funciona melhor. A mulher é mais detalhista, o homem é mais concreto. Claro que o negócio precisa dar retorno, mas ter o olhar sensível é bom para entendermos o futuro das coisas, equilibrar a balança e fazer as mudanças de acordo com o comportamento das pessoas”, conclui a empresária.