Mudanças no cenário internacional de móveis

Brasil segue entre os 15 maiores fabricantes mundiais de móveis, mas nos últimos cinco anos não teve crescimento de produção maior do que a média mundial

Publicado em 12 de julho de 2023 | 11:00 |Por: Thiago Rodrigo

Neste século, a produção mundial de móveis vem em uma crescente. Desde 2001, a produção quase dobrou em valores até 2008, após apresentar queda devido à crise mundial de 2009. Em seguida, seguiu em evolução, com diminuição em 2015 e, depois, em 2019. Até que em 2020, pela primeira vez no século 20 ocorreu uma segunda queda e o motivo todos já conhecem.

Entretanto, o impacto da pandemia de coronavírus no modo de vida das pessoas gerou um rápida recuperação no setor moveleiro em 2021. A produção atingiu e ultrapassou os níveis pré-Covid. Com isso, o setor moveleiro mundial alcançou os valores US$ 500 bilhões, dobrando de tamanho desde o ano 2000.

Estes números talvez até poderiam ser melhores não fosse os desafios que não apenas o setor moveleiro mundial, mas outras atividades produtivas enfrentaram e ainda enfrentam com suas produções afetadas por conta da cadeia de fornecimento de materiais.

O crescimento da produção em 2021, esteve sujeito a uma série de restrições: escassez de matérias-primas e preços crescentes, desafios da cadeia de suprimentos, altos custos de transporte e escassez de contêineres. Além disso, as incertezas sistêmicas, decorrentes da continuidade do comércio e respectivas restrições e mudanças nas estratégias da cadeia de suprimentos, afetaram todo o setor moveleiro.

“O cenário internacional de móveis se tornou complicado com a pandemia e, agora, a Guerra na Ucrânia. O setor moveleiro experimentou mudanças na cadeia de fornecimento com a logística prejudicada e o fornecimento dificultado. Então, o momento é de “nearshoring”, com as empresas aproximando suas fontes de materiais”, avalia Giovanna Castellini, diretora internacional de marketing do Csil – Centre for Industrial Studies.

Um dos motivos para a cadeia de fornecimento estar tão afetada, muito mais no setor moveleiro do que em outros – afinal, é mais fácil transportar um celular do que um sofá –, são os custos de contêineres, que subiram mais de 1200% desde o início da pandemia, impactando nos preços do setor de móveis.

Abimóvel passa a integrar CNDI

No mercado mundial de móveis, houve casos de empresas do Reino Unido que pagaram 20 mil para importar estofados da China comparado a 1,5 mil antes da pandemia. Para conhecimento, as relações comerciais entre ambos os países cresceram substancialmente: em 1993, eram de 50 milhões. Em 2020, 4,3 bilhões. Na Europa, para encurtar as distâncias, muitos países trocaram a Ásia por fornecedores na Polônia, Lituânia e Letônia.

Por isso, segundo pesquisa do Csil – Centre for Industrial Studies, 80% das fabricantes de móveis respondentes da pesquisa realizada em agosto de 2021, consideraram diversificar os fornecedores, enquanto 70% procuraram alterar o design do mobiliário, além de mais de 60% buscaram encurtar as fontes dos materiais.

Durante o Salone del Mobile Milano, Claudio Feltrin, presidente da FederlegnoArredo, a associação italiana de móveis, analisou que o cenário atual do setor moveleiro ainda é extremamente dinâmico e saudável, nas conclusões da entidade, apesar das incógnitas devido ao cenário internacional. “Isso nos obriga a sermos cautelosos, sobretudo na perspectiva do próximo outono”, avaliou.

Para ele, a questão dos custos de energia, a dificuldade de obtenção de matéria-prima, que se torna o calcanhar de Aquiles da recuperação do setor e a erosão do poder de compra, que pode desacelerar a demanda de um mercado ainda efervescente, são motivos de preocupação.

“O setor do mobiliário em madeira está a responder a um processo de mudança da sociedade, que a pandemia acelerou, levando as pessoas a redescobrirem o valor da casa, na consciência de que podemos viver de forma mais confortável, moderna e saudável, com bens duradouros, produtos de qualidade que tornam nossas vidas melhores. Essa não é uma tendência passageira, mas uma transformação estrutural”, avaliou na ocasião.

Comércio internacional de móveis

Dentro deste cenário, nos últimos dez anos, o comércio internacional de móveis cresceu mais rápido do que a produção de móveis e tem consistentemente representado cerca de 1% do comércio internacional de manufaturados. A pandemia causou estagnação em 2020, mas 2021 foi um ano de forte crescimento.

A maior parte do comércio internacional de móveis tem origem na China, Vietnã, Polônia, Alemanha e Itália. Vão principalmente para os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Holanda (um centro comercial).

No consumo, a experiência do lockdown destacou a importância do lar que adquiriu uma nova centralidade tanto para viver como para trabalhar, segundo o Csil. Como vimos, passar mais tempo em casa apontou a utilidade de ter espaços funcionais para toda a família, com móveis mais adequados para trabalhar em casa.

Desse modo, os consumidores investiram na melhoria de seus espaços de vida, muitas vezes alocando para móveis porções substanciais da renda disponibilizadas devido à diminuição das despesas com outros atividades de lazer. Por essa razão, o consumo mundial induzido pela pandemia teve a substancial alta em 2021.

Na análise do Csil, o setor moveleiro mundial foi beneficiado com um contexto positivo de demanda, provocado pela maior importância das pessoas dado aos produtos para casa e a necessidade de maior conforto e reorganização dos espaços.

Essa fase também intensificou a transformação do varejo, acelerando os múltiplos canais de distribuição, mas também gerando as empresas a repensarem suas abordagens de distribuição de seus produtos.

Para o Csil, também houve uma evolução das estratégias das companhias que passaram a, além de competir, cooperar. No desenvolvimento do mobiliário, as principais transformações foram produtos inteligentes, multifuncionais, customizáveis e inovativos, com viés sustentáveis e de circularidade.

Mercado de móveis no Brasil

A economia brasileira teve crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2022, na comparação com os últimos três meses de 2021, segundo dados divulgados pelo IBGE. Para o ano, a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o País deva crescer 0,8%, melhorando as previsões do FMI comparado a janeiro. Ainda assim, o País está entre os piores países com perspectivas de crescimento. O crescimento projetado para os anos 2022-2023, pelo FMI é de 2,2%, o sétimo pior resultado, do qual Rússia e Bielorrússia lideram.

No setor moveleiro, a previsão para 2022 é de queda, muito por conta dos bons números de 2021. Entretanto, a receita da indústria moveleira deve crescer, muito por conta da inflação e dos motivos citados pelos impactos dos fornecimentos de materiais.

Em termos de consumo, as projeções atuais são para uma queda de 3% em 2022 sobre 2021, em volume, mas com um acréscimo de 4% nos valores, de acordo com o Iemi – Inteligência de Mercado. Em meio a esse cenário, há empresas que apostam no mercado moveleiro brasileiro e estão investindo no País.Ornare

Há alguns anos, vimos moveleiras como a Herval destinar R$ 75 milhões na ampliação e na melhoria das atividades industriais na planta de móveis e colchões no município de Dois Irmãos (RS) e o e-commerce MadeiraMadeira investir R$ 100 milhões em um centro tecnológico de desenvolvimento móveis. Do segmento de tintas, a Brasilux buscou expandir sua fábrica enquanto a Farben também aportou capital para melhorar várias áreas da empresa.

Empresas como Guararapes, Greenplac, Floraplac e Berneck também investiram no aumento de suas produções nos últimos anos. A Guararapes em ampliar a capacidade de produção com uma nova linha, a Floraplac fez o mesmo visando aumentar em cinco vezes atendendo prioritariamente Norte e Nordeste. Os aportes da Greenplac estão na casa dos R$ 115 milhões, enquanto a Berneck também vai dobrar a capacidade de uma de suas fábricas.

Empresas multinacionais como a Schattdecor trouxeram novos equipamentos para suas fábricas no País, assim como a Impress Decor que investe R$ 100 milhões para expandir sua linha de produção. O último grande investimento de uma empresa estrangeira está sendo feito pela Biesse. A fabricante italiana de máquinas, que tinha atuação no Brasil por intermédio de representantes, agora aposta no País com um relacionamento mais próximo.

A multinacional está realizado a abertura de novas filiais em Israel, Japão e Brasil, fortalecendo sua presença em mercados identificados como estratégicos. “A globalização é um dos fatores-chave que sempre impulsionou o desenvolvimento do nosso grupo e hoje, com cerca de 85% do nosso volume de negócios consolidado gerado no exterior, simplesmente não poderia ser de outra forma”, explica Roberto Selci, CEO da Biesse.

Desse modo, a Biesse ampliará sua presença no Brasil com abertura de um novo showroom em Curitiba (PR), visando também a atuação no mercado latino-americano. Segundo a marca, o espaço aumentará as possibilidades para o desenvolvimento de soluções para os clientes moveleiros da companhia.

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