PDCIMob impulsiona ações de design

Designer Dimitri Lociks, responsável pelas ações de design do PDCIMob fala sobre a relevância do design como uma ferramenta transformadora e estratégica

Publicado em 19 de julho de 2023 | 08:00 |Por: Portal eMóbile

O Projeto de Desenvolvimento, Competitividade e Integração da Indústria do Mobiliário (PDCIMob) vem promovendo melhorias competitivas nas micro e pequenas empresas do setor moveleiro nacional por meio do Design Aliado à Indústria.

Desenvolvido e organizado pela Abimóvel (Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário) junto ao Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o PDCIMob tem como meta a profissionalização e a otimização de processos e produtos, abrangendo todas as etapas fundamentais de gestão, produção, divulgação e comercialização na indústria de móveis brasileira, composta majoritariamente por micro e pequenos negócios, que somam cerca de 78% do setor.

Brasilidade como estilo do design de móveis

O Design Aliado à Indústria, por sua vez, faz parte da Trilha II do projeto — que é dividido em três trilhas estratégicas: Inteligência Setorial e Digital, Melhoria da Competitividade e Aproximação Comercial —, tendo como objetivo ampliar a competitividade dos fabricantes de móveis, utilizando o design como uma ferramenta transdisciplinar e estruturante. Ou seja, permitindo uma visão ampla e integrada de toda a jornada do produto, desde a sua concepção até a venda.

Quem nos explica um pouco mais sobre a ação, bem como sobre a relevância do design como uma ferramenta transformadora e estratégica para a indústria moveleira e para o viver é Dimitri Lociks, que é diretor da APD (Associação dos Profissionais de Design), conselheiro da Adepro (Associação de Designers do Brasil), designer na Choque e um dos responsáveis pela condução do programa de design do PDCIMob.

Como você avalia a missão do PDCIMob no setor moveleiro e na indústria nacional? Aliás, nos fale mais sobre o desenvolvimento da Trilha 2 do projeto, focada na melhoria da competitividade das empresas participantes.
Dmitri Lociks – O PDCIMob tem um papel fundamental ao levar junto a micro e pequenas empresas as melhores práticas do mercado, dando a oportunidade de fazer com que empresas ainda pequenas se desenvolvam em bases sólidas, de forma constante e promissora. O nosso papel é auxiliar micro e pequenas indústrias moveleiras a agregar e comunicar valor nos seus serviços e produtos, ou seja, fazer com que os clientes percebam excelência na empresa e seus móveis, de forma a aumentar a sua competitividade, sendo o design a melhor ferramenta para isso.

E qual é o papel do “Design Aliado à Indústria” nesse contexto? De que forma a ação colabora para o desenvolvimento dos micro e pequenos negócios moveleiros?
Lociks – Acreditamos que uma empresa competitiva é aquela que oferece produtos atraentes e acessíveis ao seu mercado-alvo. Nesse sentido, o projeto visa auxiliar empresários de micro e pequenas indústrias moveleiras a gerar e comunicar valor em seus produtos e marcas através do design, levando em conta aspectos de comportamento de consumo, sustentabilidade e responsabilidade social. Acreditamos que essa geração e comunicação de valor deve ser global. O que quer dizer que não basta apenas criar um produto atraente, mas também é necessário apresentá-lo e vendê-lo de forma que o cliente perceba valor em toda a jornada que ele tiver com a marca, do Instagram até a loja.

A inserção do design na cultura das empresas é o nosso maior objetivo com esse projeto, adotando estratégias que envolvem ferramentas de marketing, gestão estratégica e design em diversas fases de desenvolvimento e lançamento de produto para garantir vendas. Nesse sentido, eu espero que os resultados financeiros que podem ser obtidos por meio do projeto serão fundamentais para a cristalização dessa cultura de inovação no interior das empresas.

Como será desenvolvida a ação dentro do escopo do PDCIMob?
Lociks – A ação tem como início uma avaliação individualizada de cada empresa, em que aplicamos um questionário que avalia o grau de maturidade em design de cada empresa. Com base nesse estudo — em que avaliamos como a empresa cria, desenvolve, gere, lança e monitora os seus produtos atuais — traçamos um plano de ação com foco em design, para a empresa promover a sua excelência não apenas na forma do móvel, mas em todo um ecossistema que se comunica e promove valor junto ao cliente. As empresas que obtiverem um score de acima de 50% na nossa avaliação, recebem também um designer que passa a desenvolver produtos conforme a metodologia do programa, ou seja, preparamos a empresa para receber design e obter o máximo proveito com essa ferramenta, da concepção ao lançamento de um novo produto.

Design autoral em Milão

Também desenvolvemos um caderno de tendências para as empresas cadastradas em nosso projeto, abordando temas como tendências em decoração, design de móveis, materiais, cores e acabamentos, tudo com foco na percepção, tão demandada por arquiteto, especialmente no pós-pandemia, de oferecer móveis que transmitam conforto, cuidado e acolhimento. Para isso, é fundamental escolher formas mais ergonômicas, materiais mais aconchegantes e acabamentos que gerem uma conexão afetiva e inspirem desejo. Os espaços públicos, especialmente os locais de trabalho, também foram completamente reinventados nesses últimos anos. E é por meio dos móveis que podemos ressignificar esses espaços, tornando-os adequados para as novas relações de trabalho.

Além disso, a metodologia desenvolvida para o PDCIMob conta também com um plano de ação específico para a sustentabilidade e responsabilidade social. Nesse plano, incentivamos os empresários a inserir requisitos de práticas mais responsáveis no briefing para o projeto de novos móveis, os quais o designer deverá seguir durante todo o processo de criação. Esses projetos são sempre adaptados à realidade das empresas com as quais trabalhamos, mostrando que é possível criar produtos viáveis e comerciais com responsabilidade ambiental e social.

Quando falamos no design aliado à indústria de pequeno porte, quais os principais desafios enfrentados pelas empresas?
Lociks – O principal desafio está na comunicação de valor. A maioria das nossas empresas apresentam móveis de excelente qualidade, mas tem dificuldades de comunicá-la por falta de uma abordagem mais estratégica de design. O uso da ferramenta de design por essas empresas não é comum e quando elas o fazem, é de forma muito localizada. Ao nosso ver, o design não pode ser trabalhado de forma pontual, mas sistêmica, ou seja, a empresa precisa comunicar valor na marca, nas redes sociais, no site, material de venda e nos móveis também. É a partir dessa abordagem mais holística do design que conseguiremos obter um resultado satisfatório de vendas.

E quais são as principais metodologias e ferramentas utilizadas para colaborar com a integração entre os profissionais de design e essas empresas, consequentemente resultando na criação de novos produtos?
Lociks – Criamos, como mencionei anteriormente, a metodologia MED, ou Modelo de Excelência em Design, onde imaginamos o desenvolvimento de um novo produto dentro de uma jornada composta por: Planejamento em design, Desenvolvimento em design, Gestão em design, Lançamento e pós-lançamento em design. Essa cadeia de atividades procura agregar valor e estabelecer estratégias de sucesso comercial ao abordar todas as fases de um produto com design, da sua concepção à sua descontinuação no mercado. Para tal, adotamos também a metodologia de design thinking, onde dividimos o projeto de produto nas fases de empatia (definição de público-alvo, pesquisa de comportamento de consumo e tendências de mercado), definição (escopo, briefing e plano de ação), ideação (geração e apresentação de alternativas), prototipagem (tangibilização do conceito escolhido) e testes. Queremos desenvolver peças para o mercado, não para museus ou galerias. Se tem inovação que conversa com o que o mercado quer e vende bem, está garantido o seu caminho para o mercado nacional e internacional.

Qual a importância, aliás, da abordagem transdisciplinar do design para a indústria moveleira? Como isso pode ajudar a transformar a produção e a comercialização de móveis no Brasil?
Lociks – A abordagem transdisciplinar do design é importante para a indústria moveleira porque permite uma visão ampla e integrada de toda a jornada do produto, desde a sua concepção até a sua comercialização. Envolvendo, assim, a colaboração de profissionais de diferentes áreas, como designers, engenheiros, arquitetos, sociólogos, marketeiros, publicitários, entre outros, para criar soluções inovadoras que atendam às necessidades do mercado e dos consumidores. No caso da indústria moveleira, ainda, essa abordagem transdisciplinar do design pode ajudar a criar móveis mais ergonômicos, confortáveis, funcionais e alinhados às tendências de decoração, que atendam às necessidades dos consumidores e promovam saúde, bem-estar e lucro. Além disso, pode contribuir para a criação de móveis mais sustentáveis, utilizando materiais e processos de produção mais eficientes e menos poluentes, agregando uma ginga que pode ser o nosso diferencial em outros mercados.

Por falar nessa “ginga”, como avalia o atual panorama do design brasileiro de móveis? Quais são as principais tendências, desafios e oportunidades do setor?
Lociks – Eu acredito que o design brasileiro de móveis tem evoluído significativamente nos últimos anos, com o surgimento de novos talentos e a consolidação de empresas e marcas que investem em design de qualidade. No entanto, ainda há muito a ser feito. No meu ponto de vista, das principais tendências do design brasileiro de móveis, destacam-se a valorização da sustentabilidade e do uso de materiais naturais e de origem local, a busca por formas orgânicas e fluidas que promovam o conforto, bem-estar e regionalismo. Fora isso, eu percebo que a experimentação com novas tecnologias e processos de produção, como a impressão 3D e a inteligência artificial norteiam muito o design brasileiro do futuro.

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Quanto aos desafios enfrentados pelo setor, eu acredito que incluem uma falta de cultura no consumo de design, marketing e gestão estratégica por parte da maioria das micro, pequenas e médias empresas. Além disso, há a necessidade de aprimorar a infraestrutura e a logística para o transporte e distribuição dos móveis, bem como de qualificar mão de obra especializada em design e produção de móveis. O designer brasileiro precisa se profissionalizar mais e isso só vai acontecer se as empresas abrirem as portas para ele.

Ainda assim, eu percebo que as oportunidades para o design brasileiro de móveis incluem a crescente demanda por produtos sustentáveis e de origem local e tropical — sim, o norte está curioso com o sul, segundo a maioria dos cadernos de tendência, como a WGSN — e isso vale tanto no mercado interno quanto no exterior. Além disso, a transformação digital e o aumento das vendas on-line oferecem novas possibilidades de alcance de público e de ampliação dos negócios. Sem falar nos investimentos de promoção do nosso design que vêm sendo feitos por entidades como Abimóvel, Sebrae, ApexBrasil e demais instituições.

Além das empresas participantes do PDCIMob, como o projeto pode beneficiar outros atores da cadeia produtiva do mobiliário, como fornecedores de matéria-prima, designers independentes e lojistas?
Lociks – O projeto deu oportunidade a jovens designers de todo Brasil, a partir de uma escolha inclusiva e generosa. Nesse sentido, eu acredito que revelaremos novos talentos ao final do nosso trabalho, que com certeza farão com que a cena do design nacional saia ainda mais fortalecida.

Quanto a toda a cadeia de fornecedores de matérias-primas e lojistas, esperamos que a ampliação da visão de mercado que o PDCIMob oferece, terá como resultado uma demanda mais diversificada de materiais e acabamentos (excelente para os fornecedores) e um resultado de vendas em função de um desenvolvimento de produtos mais estratégico e comercial.

Como você enxerga o futuro da indústria moveleira no Brasil, em termos de inovação, competitividade e integração com outros setores da economia?
Lociks – Olhando para o futuro da indústria moveleira no Brasil, acredito que há um grande potencial para a inovação, a competitividade e a integração com outros setores da economia. Na minha visão, a utilização de novas tecnologias e processos de produção, bem como a valorização da sustentabilidade, são as principais tendências que impulsionam o setor nos próximos anos.

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