Produção de móveis avança, mas não reverte queda

Mês de junho apresentou avanço, mas não reverteu tendência de decréscimo no ano de 2023, segundo Abimóvel

Publicado em 11 de outubro de 2023 | 00:00 |Por: Thiago Rodrigo

Em um movimento aguardado, o volume de produção de móveis e colchões no Brasil experimentou certo estímulo no final do primeiro semestre de 2023, registrando um aumento de 4,9% no mês de junho em relação a maio do mesmo ano.

O avanço, no entanto, não foi suficiente para reverter a tendência decrescente da produção em comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado de janeiro a junho deste ano, o volume produzido ficou 0,7% abaixo do alcançado nos mesmos meses de 2022.

As informações são da mais recente edição mensal da “Conjuntura de Móveis”, estudo da Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), desenvolvido com exclusividade pelo Iemi com base em dados oficiais de pesquisa. A nova edição traz os indicadores atualizados da indústria, do varejo e do comércio exterior de móveis e colchões na primeira metade de 2023.

Produção de móveis

Em termos de receita, a indústria moveleira alcançou o montante de R$ 6,1 bilhões em junho deste ano, representando uma queda de 5,3% em relação ao mês anterior. Todavia, ao analisar o ano de 2023 como um todo, observa-se um aumento de 0,6% em comparação com o mesmo período de 2022. Nos últimos 12 meses, porém, a receita teve queda de 1,0%.

Importante notar que enquanto o preço médio de produção de móveis foi de R$ 193,20 por peça em junho de 2023, indicando uma queda de 0,36% em relação ao mês anterior, o índice registrou uma alta de 2,09% no acumulado de janeiro a junho, e +0,75% em 12 meses.

Irineu Munhoz, presidente da Abimóvel, comentou sobre essa dinâmica: “Os desafios que enfrentamos em relação às flutuações econômicas e o ambiente de negócios desfavorável no Brasil e no mundo continuam a pesar sobre a indústria de móveis. Apesar do aumento pontual na produção, precisamos de uma recuperação consistente para superar os obstáculos que surgiram nos últimos anos”.

Consumo interno, importações e exportações

Nesse cenário, o consumo interno aparente, que reflete a disponibilidade dos produtos no mercado brasileiro, registrou 31,7 milhões de peças em junho de 2023, representando uma variação negativa de 4,2% em relação ao mês anterior. Ao longo do ano, contudo, houve aumento de 0,8% em comparação com o mesmo período (janeiro a junho) de 2022. Nos últimos 12 meses, por sua vez, o movimento foi decrescente: -1,3%.

Por falar nisso, no sexto mês do ano a participação de móveis importados no consumo aparente atingiu 3,8%, enquanto a média anual ficou em 2,9%. As importações totalizaram US$ 18,9 milhões em junho de 2023, uma queda de 1,7% em relação ao mês anterior. Em contrapartida, no mês de julho, já entrando na segunda metade do ano, esse montante aumentou para US$ 19,3 milhões, uma alta de 2,4% na passagem dos meses.

Quanto às exportações da produção de móveis, estas registraram um valor de US$ 59,0 milhões em junho de 2023, refletindo uma queda de 12,4% em relação a maio. Já em julho, o montante exportado subiu para US$ 62,0 milhões, refletindo uma alta de 5,1% sobre junho.

Investimentos na indústria de móveis

No que diz respeito ao emprego na indústria moveleira, apesar da queda de 0,4% em junho frente a maio, o acumulado do ano demonstra certa recuperação, com um avanço de 1,7% no número de pessoal ocupado em relação ao ano anterior. O ritmo de contratações vem desacelerando, porém, com queda de 4,0% nos últimos 12 meses.

Destaca-se também que a média salarial no setor apresentou um aumento mensal de 6,6%, atingindo R$ 1.637,92 em junho. Tanto na comparação anual quanto nos últimos meses, o índice registrou alta, ou seja, 7,6% e 6,8%, respectivamente.

Produção de móveis cai em julho

A massa salarial também apresentou um aumento de 6,3% no final do primeiro semestre de 2023, atingindo R$ 326,8 milhões em junho na comparação com maio. No acumulado do ano, o aumento foi de 2,8%, mas em 12 meses, houve uma queda de 3,4%.

Ainda na questão dos investimentos, tanto em capital humano quanto material, é importante observar que as importações de máquinas para a fabricação de móveis que vinham em alta até maio, caíram no final do segundo trimestre, acumulando queda de 29,2% de janeiro a julho de 2023.

Indústria e economia nacional

“A indústria de móveis e a de transformação como um todo permanecem penalizadas pela política monetária apertada e pelo ambiente de crédito desfavorável. Isso, ainda, sem um impulso de recuperação do consumo que possa dar conta de alavancar a produção no país, como aconteceu nos anos anteriores com a injeção de benefícios econômicos mais substanciais no país. No entanto, as recentes surpresas positivas em torno do PIB brasileiro oferecem um pouco mais de otimismo, especialmente ao considerarmos o papel crucial do setor industrial nos resultados alcançados no período”, conta Munhoz.

O Produto Interno Bruto do Brasil registrou um crescimento de 0,9% na comparação do primeiro para o segundo trimestre deste ano. Em relação a igual período no ano passado, o avanço foi ainda mais expressivo, atingindo 3,4%.

Os números superaram as expectativas da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que previa um crescimento de 1,7% em comparação com o ano anterior. Como resultado, a expectativa é de uma revisão positiva das projeções de crescimento para o ano de 2023.

O destaque desse crescimento trimestral foi o setor industrial, que apresentou um avanço de 0,9% em relação ao primeiro trimestre e uma alta de 1,5% em comparação com o segundo trimestre de 2022. Dentre os segmentos industriais, ênfase, porém, ao desempenho da Indústria Extrativa, que registrou um crescimento de 1,8% em relação ao primeiro trimestre e uma notável expansão de 8,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Além do setor extrativista, todos os componentes do PIB Industrial também apresentaram crescimento em comparação com o primeiro trimestre de 2023. A Indústria da Construção, após dois trimestres consecutivos de retração, cresceu 0,7% no trimestre.

Contudo, quando comparada com o segundo trimestre de 2022, a Construção revela uma trajetória de crescimento mais lenta, com um avanço de apenas 0,3%, o índice mais baixo desde o terceiro trimestre de 2020. Já a Indústria de Transformação registrou um crescimento de 0,3%.

Abicol em três eventos internacionais em setembro

O desempenho modesto da Indústria de Transformação segue, no entanto, as expectativas da CNI, com um crescimento limitado no trimestre e uma queda de 1,7% em comparação com o mesmo trimestre de 2022. “Mesmo com o setor industrial impulsionando o PIB nacional na primeira metade do ano, a indústria de transformação ainda mostra um desempenho lento ao longo de 2023, com fatores que escancaram a necessidade de políticas públicas e medidas econômicas que estimulem o crescimento sustentável da indústria brasileira”, analisa Munhoz.

Ele finaliza: “Por outro lado, observamos um movimento de reorganização das cadeias de suprimentos e de desaceleração da inflação em curso no mercado interno, apesar dos ainda intensos efeitos globais. Há, ainda, indícios de uma recuperação gradual do mercado de trabalho nacional, após os longos impactos da pandemia. Além disso, a manutenção da redução do IPI no setor de móveis e a expectativa pela Reforma Tributária, que segue em tramitação no Senado após ter sido aprovada na Câmara, são pontos muito necessários para o reequilíbrio do consumo no País. Questões que têm sido pautas importantes na atuação da Abimóvel e que nos faz acreditar que embora tenhamos mais desafios pela frente, também temos possibilidades de recuperação real pela frente”.

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