Como evitar que a pandemia afete a sua saúde mental?
Pesquisa revelou que as pessoas estão experimentando sentimentos como medo e frustração. eMóbile ouviu uma especialista para ajudar os empresários a lidar, de forma saudável, com os desafios que estão postos.
Publicado em 13 de maio de 2020 | 18:21 |Por: Everton Lima
Um estudo publicado pela TEMA mostrou como as pessoas estão reagindo emocionalmente à pandemia de COVID-19 e como a doença pode estar afetando a saúde mental dos participantes. A pesquisa revelou que a maioria dos entrevistados (78%) se mostra com muita vontade de ajudar as pessoas neste momento.
Além disso, 63% dos participantes se revelaram esperançosos com um desfecho positivo em relação à crise financeira e sanitária causada pelo novo Coronavírus.
Apesar disso, mudanças tão bruscas têm afetado, de maneira negativa, a vida emocional das pessoas. 63% revelaram que se sentem com medo neste período de isolamento social. 48% relataram frustração e 35% confessaram que se sentem deprimidos.
Curiosamente, as pessoas mais jovens parecem sofrer mais com tais sentimentos. Enquanto 66% dos participantes com idade entre 18 e 44 anos disseram estar com medo, apenas 41% dos idosos afirmaram estar temerosos com a situação atual.
35% dos idosos dizem estar frustrados. Entre os mais jovens (18-24 anos), esse percentual sobe para 60%.
Esse misto de sentimentos negativos tem um impacto na vida profissional das pessoas, podendo impactar negativamente a produtividade e a tomada de decisões.
Márcia Soares, especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho e mestre em Processos Psicossociais, fala sobre o impacto deste momento na saúde mental das pessoas. “A pandemia afeta todos os indivíduos, independentemente da condição socioeconômica. Os afetamentos psíquicos estão diretamente relacionados com os fatores que influenciam a vida das pessoas sob essa condição. Em graus diferentes, alguns se preocuparão com a saúde, outros com a manutenção da condição financeira, outros com a própria sobrevivência. Desse modo, pensar em preservar a saúde mental envolve algumas estratégias psíquicas que devem ser desenvolvidas por todos”, afirma.
Márcia dá algumas dicas para as pessoas que desejam preservar a sua saúde mental nestes tempos difíceis.
“Inicialmente, deve-se identificar os fatores que estão gerando angústia, medo, insegurança e refletir sobre as possíveis estratégias para minimizá-los. Ter alguém com quem possa conversar e compartilhar tais sentimentos ajuda a elaborar esses afetos. Caso o indivíduo esteja isolado socialmente ou não tenha facilidade para compartilhar sentimentos com pessoas próximas ou com um psicólogo, sugere-se a escrita dos problemas e dos sentimentos relacionados a ele. Ter um diário para relatar os dias mais difíceis auxiliará na compreensão dos sentimentos, na elaboração de estratégias de enfrentamento e na tomada de decisão”, aconselha.
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Ela também lembra da importância de praticar atividades físicas, mesmo que em casa, além de buscar manter uma alimentação equilibrada. A especialista ainda sugere que as pessoas passem a aproveitar os momentos com a família, como uma forma de melhorar o humor.
Saúde mental: evitando decisões erradas
Diante de emoções fortes, Márcia afirma que é possível que gestores e empresários tomem decisões equivocadas em seus negócios, gerando ainda mais problemas.
“O gestor estratégico irá sempre pensar em tomar decisões que irão equilibrar as necessidades financeiras da empresa e a manutenção do diferencial do negócio no futuro, pensando que o diferencial que proporcionará maior competitividade e inovação são os empregados. Como, então, tomar decisões impopulares com uma equipe competente?
A sensação de respeito poderá prevalecer à insatisfação gerada pelo momento. O trauma, deste modo, poderá ser reduzido tanto para o gestor quanto para o trabalhador”,
A transparência é o que deve acompanhar esse processo. Quando a decisão é tomada a partir de um diálogo entre gestores e empregados, em que são pontuadas as questões com transparência, a chance de tornar tal momento menos traumático, tanto para os empregados quanto para os gestores, é ampliada. A sensação de respeito poderá prevalecer à insatisfação gerada pelo momento. O trauma, deste modo, poderá ser reduzido tanto para o gestor quanto para o trabalhador”, explica.
Ela ainda afirma que os empresários precisam entender o cenário que estamos vivendo, sendo realistas sobre eventuais fracassos em suas estratégias.
“A situação global é propícia a fracassos em alguns projetos, neste momento. Compreender os fatores que estiveram envolvidos no fracasso poderá auxiliar na compreensão dele, bem como nas estratégias para evitar novo erro”, opina.
É possível ser otimista?
O eMóbile questionou a especialista sobre a possibilidade de se manter otimista diante de um cenário tão pouco amigável. Márcia aconselha os leitores do portal a buscarem autoconhecimento, evitando transferir as suas frustrações pessoais e medos para as outras pessoas.
“Estamos vivenciando uma situação nova em que ninguém sabe ao certo os resultados futuros. Lidar com algo real, concreto, que não dominamos, é extremamente desafiador. Não há um prescrito que poderá direcionar ao resultado esperado. Nestes momentos, desenvolvemos estratégias psíquicas para manter a saúde mental. Desconsiderar os fatos reais com otimismo pode ser uma delas, mas é uma saída que poderá também ser prejudicial à longo prazo, pois evita o engajamento na elaboração de estratégias de enfrentamento.
O ideal é tomar contato com o sofrimento gerado pela insegurança da situação. Ao tomar contato e tentar compreendê-lo, deve-se pensar sobre ele e sobre as diversas possibilidades de superá-lo.
Somos seres adaptáveis e extremamente criativos. Diante do inesperado, mobilizamos todo o nosso saber tácito, nosso saber técnico e prático e pensamos em estratégias de resolução dos problemas. O sofrimento inicialmente gerado pelo inesperado, após elaborado e transformado em estratégias de enfrentamento, se tornará prazer. É processual, mas as melhores ideias e inovações aparecem nas crises. A ideia de “não mexer em time que está ganhando” gera certa resistência à mudança e, com isso, reduz-se a possibilidade de inovação. Situações de crise exigem mudança. A necessidade de mudança pode gerar medo e desprazer, mas gera também novidades. Portanto, manter uma postura otimista tomando contato com a insegurança e gravidade do momento é extremamente promissor”, afirma a professora universitária.
Esta é a segunda reportagem da série especial que o eMóbile está fazendo sobre os impactos do COVID-19 no varejo e na indústria. Fique ligado em nossas redes sociais para não perdes as próximas reportagens — caso tenha perdido, você ler a primeira matéria da série em nosso site.